O que é aprendizagem significativa e como garantir que ela exista na sua instituição?

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É provável que você já tenha escutado a seguinte crítica à educação brasileira: “A escola não ensina o que é importante de verdade!” O objetivo dessa crítica é dizer que matérias importantes, como as finanças, ficam de fora do currículo mínimo, enquanto outras não geram interesse nos alunos.

Mas, na verdade, o que deve ser questionado não é o currículo mínimo, composto de matérias tão importantes, mas sim os métodos de ensino. E é isso que fez David Ausubel, ao propor a teoria da aprendizagem significativa.

Neste artigo, veremos como essa teoria é importante para o Ensino Superior, entendendo seus fundamentos e aplicações.

O que é aprendizagem significativa?

Aprendizagem significativa é o processo de aprendizado em que as novas informações se relacionam de forma relevante com as informações que já aprendidas. Podemos dizer que ocorre da seguinte forma:

  1. Digamos que uma criança aviste o mar pela primeira vez. Ao entrar no mar, seu cérebro faz conexões: o mar é úmido, o mar se mexe, o mar faz espuma, o mar é salgado.
  2. Somente a partir dessas informações básicas é que a criança poderá aprender sobre o mar, um lugar que ela agora conhece.
  3. Portanto, não adianta dizer a uma criança que nunca viu o mar, que ele é salgado devido a sais minerais dissolvidos na água após o processo de erosão. Isso não será produtivo, pois a criança não possui informações prévias.

Por isso o método da “decoreba” é tão ineficaz: as informações ficam soltas, sem os conceitos prévios, que David Ausubel chama de “subsunçores”.

Se você guardar um tênis junto aos sapatos e às botas, será muito mais fácil encontrá-lo do que se você deixasse o tênis solto perto da caixa d’água.

O que isso significa? A aprendizagem significativa envolve fazer relações entre uma informação nova e as informações que já tínhamos, em vez de deixá-las soltas.

Falando dessa forma, parece óbvio que a aprendizagem significativa é melhor que outras formas de aprendizagem. Então surge uma questão:

Por que essa teoria é “disruptiva”?

Na época de Ausubel, as teorias behavioristas dominavam o contexto educacional e pedagógico. Por mais que essas teorias tenham tido valor para construir o entendimento de Psicologia que temos na atualidade, elas faziam com que muitos enxergassem o aprendizado como uma atividade mecânica.

David Ausubel, na idade escolar, sentia-se negligenciado como ser humano: sua história era ignorada. E é para isso que, mais tarde, sua teoria surgiu: a aprendizagem significativa te ensina com base no que você já sabe, levando em conta sua história, suas preferências e o efeito daquele ensinamento na sua cognição.

Mas vemos, até hoje, instituições de ensino e professores orientados a trabalhar de forma mecânica. É como o ensino bancário, sobre o qual Paulo Freire falava: enxergando os alunos como um mero repositório de informações, não instruem de verdade, apenas despejam “conhecimento”.

Então o que Ausubel propôs? Que a aprendizagem significativa é a melhor forma de obter conhecimento, sendo uma das metodologias ativas que abordamos nesta série no Blog Ensinc.

O que é necessário para ela ocorrer?

aprendizagem significativa

De acordo com Ausubel, “a essência do processo de aprendizagem significativa é que ideias simbolicamente expressas sejam relacionadas de maneira substantiva (não-literal) e não arbitrária ao que o aprendiz já sabe, ou seja, a algum aspecto de sua estrutura cognitiva especificamente relevante para a aprendizagem dessas ideias. Este aspecto especificamente relevante pode ser, por exemplo, uma imagem, um símbolo, um conceito, uma proposição, já significativo”.

O que isso significa? Podemos elencar alguns critérios para que o aprendizado aconteça:

  1. O aluno precisa estar aberto ao conhecimento. Para que o aluno esteja aberta ao conhecimento, não basta disposição pessoal, mas o seguinte fator:
  2. O material a ser aprendido precisa ser significativo. Caso contrário, a aprendizagem também não será.
  3. O material precisa ser relacionável (ou “incorporável”) à estrutura cognitiva do estudante. E mais:
  4. O material precisa ser relacionável de maneira não-arbitrária e não-literal. Ou seja, não basta dizer “você precisa aprender porque sim”. E também não basta explicar de forma didática: é preciso que isso seja feito de forma não-literal, como fizemos neste artigo com o exemplo do tênis: usamos uma comparação, alheia ao universo da educação, para demonstrar nosso ponto.

Tipos de aprendizagem significativa

David Ausubel apresenta três formas práticas em que são aplicadas sua teoria.

  1. Aprendizagem representacional. É a atribuição de significados a símbolos. Por exemplo, quando você leva uma criança à praia, a palavra “praia” deixa de ser um mero símbolo e se torna algo concreto.
  2. Aprendizagem de conceitos. Esta é uma continuação da aprendizagem anterior, quando o aluno apreende as características do símbolo ao qual ele atribuiu significado e a relacioná-lo com outros. Por exemplo, ele entende o que está envolvido no conceito “praia” com outros símbolos: areia, mar, vegetação à beira da areia, insetos e animais que perambulam por ali.
  3. Aprendizagem proposicional. Esta aprendizagem envolve elaborar o sentido de ideias em forma de proposições, ou seja, já envolve agir a partir dos conceitos que assimilou.

A prática da aprendizagem significativa   

Há muito a ser dito e assimilado a respeito da aprendizagem significativa. Por exemplo, apesar de Ausubel ter desenvolvido uma teoria oposta à que ele chama de aprendizagem mecânica, o autor não descarta a importância da memorização no aprendizado.

É papel das instituições, em seus projetos didático-pedagógicos, pensar como serão ministrados seus cursos. As IES devem pensar em muito mais do que a autorização do MEC, que é o básico, mas também no efeito do seu projeto na sociedade.

Como a aprendizagem significativa pode ser aplicada em um curso EAD?

  1. Não trate o ensino de forma mecânica. Não lide com alunos como quem lida com máquinas.
  2. Traga o ensino para a linguagem dos alunos, utilizando a criatividade. O modelo de aula baseada em slides é comum e pode ser eficaz, mas o atual mercado da educação exige mais dos professores e das instituições.
  3. Garanta que o ensino está sendo relacionado à história de cada aluno e aos conhecimentos que eles já possuem. Afinal, este é o ponto central da aprendizagem significativa.

Você já conhecia essa metodologia? Na série Metodologias Ativas, nós abordamos diversas formas de ensino e como elas podem ser aplicadas no Ensino Superior.